segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Hoje

Começo com reticências: … Depois não há muito o que dizer. Dia cinza, quente. Dores. Sono. Insônia. Idéias contraditórias, que se complementam. Escrita confessional, a mesma outrora odiada. Ao menos, sem propósito algum. Ao menos, não se quer nada. De tudo, nada. Absoluta falta de propósito. Absoluta falta de objetivos. Absoluta falta. Não se consegue pensar com dor. Não se consegue dormir com dor. Na dor, tudo é incerto. Não se pode confiar. Não se pode desconfiar. Confesso que não tenho nada a confessar. Nada tem adiantado. Não sei. O cansaço a única certeza. A incerteza, a única certeza. Não dá para viver com isso. Será possível entender? Compreender? Como se suporta? Qual a razão das lamúrias? Não seria melhor simplesmente fingir que tudo não existe? Viver como se não se vivesse? Como se nada existisse? Como se nada fizesse diferença? Mas não. As coisas são. Existem. Arrependo-me disso.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Après la frontière de l’aube.

J’ai vu moi même aujourd’hui. Moi: Carole et François. Comme ça. Tout ensemble. Et je suis. Moi aussi, je suis à la frontière de l’aube. Mais et la fin? Sera-t-elle la même? Une fin choisie? Est-ce que je peux choisir ma fin? Il y a encore l’amour. Cette chose, indéfinissable. Est-ce que j’aime? Est-ce que j’ai aimé? Est-ce que j’aimerai un jour? Est-ce qu’il y a, vraiment, de l’amour? Je ne sais pais. Et c’est différent. Différent de pouvoir croire. Je voudrais bien croire à quelque chose, à l’amour, par exemple. Il y a toujours de choses nouvelles, et des choses anciennes. Comme les relations. Des mémoires. Des choses qui viennent et reviennent sans qu’on l’espère. Et nous sommes là. Et la vie est comme ça. Noire. Quelquefois blanche. Mais normalement, elle est grise. Je vis comme ça, maintenant. Une vie grise, comme dans cette scène. Ce morceau d’une vie quelconque.

Um homem célebre.

“A fama do Pestana dera-lhe definitivamente o primeiro lugar entre os compositores de polcas; mas o primeiro lugar da aldeia não contentava a este César, que continuava a preferir-lhe, não o segundo, mas o centésimo em Roma. Tinha ainda as alternativas de outro tempo, acerca de suas composições a diferença é que eram menos violentas. Nem entusiasmo nas primeiras horas, nem horror depois da primeira semana; algum prazer e certo fastio.” (M. de A.)

 

Para um bom leitor, meio parágrafo basta.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Nouvelle breath

Aujourd'hui j'ai compris (je crois) quelque chose: I need to keep trying new things. Non so perché. Peut-être parce que je me sens vide sans quelque chose nouvelle. A new breath. New air. New attempts. Ma a volte mi chiedo la ragione. Forse voglio farmi vedere le cose come sono. But I have no clue why. Such as painting? Why did I take it up? Pourquoi? Pourquoi est-ce que j'ai besoin de tout ces choses-là? La peinture... Je me sens différent avec la peinture. Io sento che forse qualcosa di diverso sarà possibile. Un piacere anche diverso. But why? Why is that? Why did I mess it up that way?

Só quero entender isso tudo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Posto

Está. Resta esperar pelo dia seguinte. E ver se brilha novamente. Não adianta perguntar o que trará o dia seguinte. Só se pode dormir. Esperar acordar. E ver. Cada segundo. Pois cada segundo é um mistério para quem vive. Nada mais pesado do que o inesperado do segundo seguinte. Isso posto, tudo muda, tudo, tudo.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Crepúsculo (In Memoriam)

O ocaso do Sol. O fim de uma vida. Dizem ser todo fim também um começo. Que começa agora? Começa? Recomeça? Por enquanto, plenitudes de não mais. Vazios, memórias, tempos perdidos, palavras não trocadas, risos não dados, alegrias não vividas. E agora não mais. Todos os não mais possíveis. Estamos indo de volta pra casa? Sempre acaba o pra sempre? Certamente, nada vai conseguir mudar o que ficou. Mas e agora? E o daqui em diante?

……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?
……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?
……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?
……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?
……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?
……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?
……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?……….?

Este era um novo que eu preferiria que não viesse. Diante de tantas perguntas nunca dantes naveguei. Talvez nem Dante. Talvez eu cante, talvez não cante. O certo é que não há como ser lírico. Não há lirismo, comedido ou não. Nem há beleza. Que lição se tira disso? A mesma que tenho tirado de tudo, nenhuma. Temo lições. Temo. Tremo. Que matéria etérea é essa? Que diferença faria uns dias a mais? Uns poucos poupares? Que amor é esse? Deífico? Onde? Cadê? É tudo tão aleatório, tão indiferente.

Quantus tremor est futurus
Quando judex est venturus
Cuncta stricte discussurus.

Mors slopebit et natora
Cum resurget creatura
Judicanti responsura.

Agnus Dei, qui tollis peccata mundi,
dona eis requiem.

Muito embora hesite. Não cabe a mim julgar. Se me foi dado pensar por mim mesmo, penso. Não mais. Não mais. Não mais. Não mais. Não mais. Não mais. Não mais.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sol nascente

A noite, escura. Todavia, como toda noite, acaba. E nasce um Sol. Que ilumina. Que esquenta. Que há de. Mas não ainda. É entremente nada mais que um sol nascente, ao longe, que se levanta, potentado, no horizonte, crepuscular. Raios rubros cortam o negro e frio vazio da escuridão de outrora. Enrubescido firmamento aos poucos. Firmamento cada vez mais firme. O mesmo firmamento que perdia aos poucos sua firmeza, e ameaçava desabar, temendo a noite infinda. Mas há um Sol. O Sol que poderá trazer calor e luz e vida, onde só havia o frio e escuridão e morte. Penso comigo, entretando: irá também este Sol se por? Quanto tempo durará sua volta? Mesmo sabendo que sou eu que giro ao redor dele, que Ele é o meu centro, pergunto-me por quanto tempo Ele estará próximo a mim.  Por quanto tempo me aquecerá, e me trará luz. Melhor não me perguntar. Antes fruir a presença do Sol, do que prantear a vinda do seu poente. O poente que, se trouxer fim, será o fim de um dia quente, cheio de vida.

Quando o Passado bate à porta

Pois. Completamente inesperado. Intruso? Não diria. E eis que o que se acreditava serem só lembranças, tornam-se novamente palavras. A palavra, bem o sabem, o material de que todo Real é feito. Está na Bíblia. João, Capítulo I, versículo I. Já o citei aqui outras vezes. Distâncias físicas e temporais. E ainda assim, lá. Latente. Tento? É tudo uma questão de. Causa e efeito. Um acontecimento leva a outro, numa cadeia interminável (incontrolável?) de eventos que se sucedem. Aleatório? Randômico? Intencional? Só uma certeza: a década que passou. Ou mais. Como diz a letra, “mudaram as estações, nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...”. Pulo propositadamente uma estrofe, e passo à seguinte, que continua dizendo que “nada vai conseguir mudar o que ficou. Quando penso em alguém só penso em você. E aí, então, estamos bem...”. Estamos? Estou? O resto da letra não importa. Só quero isso mesmo. Palavras, Palavras, Palavras. Nada mais. Por enquanto. Como na letra. Por enquanto? Por quanto tempo será por enquanto? Gostava de me acreditar dono de tudo, Senhor de todas as decisões, da mínimas às mais importantes. Agora, impotente. Tudo acontece à minha revelia. Como disse antes, numa montanha-russa, sem freios, sem saber quando o passeio acaba. Se é que acaba.

 

Para todos, a música, na voz da queridíssima e falecida Cássia:

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vamos lá… retomando essa porra aqui.

Já fazem lá alguns dias que nada sai daqui. Pois então. Parada para refletir. Aos mais atentos (ou seja, ninguém, pois parece que só eu mesmo leio essa merda com frequênca, e aí vem um engraçadinho e me chama de narcisista… foda-se. Sou mesmo.), esqueci o que eu iria dizer.

Bom. Precisei parar. Por mim mesmo. Isso aqui não tem proposta nenhuma, mesmo que não ter proposta já seja em si mesmo uma proposta. Mas vá lá. Não não nem aí, nem aqui. Isso aqui é uma confissão (desconfiem de escreventes que confessam confessarem, podem estar mentindo e geralmente estão, ou podem estar pedindo para desconfiar justamente por não estar mentindo, e aí tudo se confunde e o leitor sabe menos agora do que antes) aberta e direta de mim mesmo.

Sou essa porra toda aqui. Tudo junto. Tudo misturado. Tudo sem propósito. Et voilà: est-ce que nous avons un problème. Pretendo retomar a escrita diária, nem que seja só por uns breves e insignificantes resmungos. Coisa de velho. Mas a coisa está é preta, como o fundo da página, ou sempre esteve, e eu não me dava conta. De repente me vi nessa montanha-russa cheia de altos e baixos, foda-ses e foda-mes e tudo o mais que deve ter sido lido por aqui. Como disse, sem propósito. Ou o propósito é acabar com os propósitos e falar por falar, simplesmente. Blás e tudo.

Agora voltei. Por quanto tempo? Vá saber. Tudo é perene, e intermitente ao mesmo tempo. Tudo é paradoxo. Tudo é e não é ao mesmo tempo. São tudo palavras? Sim, são. Agora são. Nada mais que isso. Não há mais entrelinhas. Nem sei se há mais linhas.

Quer saber? Foda-se.

 

Vou-me.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Doña Dominga


Quando se começa, nunca se sabe em que lugar se pode chegar. Hoje comecei novamente. Oito e vinte e quatro da noite. Gosto ácido na boca. Summertime tocando na sala. O som de um alarme de carro vindo da rua, atravessando a janela fechada para o mundo lá de fora. Bebendo sangue e comendo carne de porcos. Arrotando tudo em palavras. Ouço todos os sons ao mesmo tempo: o alarme incessante, o solo de guitarra, minha boca mastigando, e engolindo mais um pouco desse vinho ácido e suave, apesar de seco, e as teclas, uma a uma, atacadas por mãos que se jogam assim, ao nada. Pode ser hoje, mas não creio que será. Enquanto isso, eu. Pessoas lá fora. Indo se divertir. Vivendo suas vidas. Eu aqui, recusando tudo. Por não entender mais nada. Por não esperar mais nada de nada nem de ninguém. Será o fim. Pergunto à Doña Dominga, mas ela permanece de pé, impassível, na minha frente. E me alimenta. Com esse seu sangue rubro. Por ser o que tem a me oferecer no momento. Observo-a, então, calmamente. Como se.

Travamos, enfim, um diálogo. Pergunto: Podes me explicar? Se fiz tudo? Fiz tudo? Há ainda o que fazer? O que tentar? Se não, o que faço aqui? O que faço, se tudo passará, como tudo passa, como eu passaria e passarei? Ao que me responde: Se tu não sabes, não serei eu a te responder. Não passo de uma ser inerte que te dá a fuga de si mesmo quando queres, mesmo sabendo o que essa fuga pode te trazer. Se tu a buscas, não posso fazer nada a não ser concedê-la a ti, que de tão bom grado pagou por ela. O que talvez tu precises é de um espelho, para que possa se ver. O que te disseram hoje pode ter sido duro, mas aquilo não veio de uma pessoa. Veio, isso sim, de um espelho de como te vêem. E você não percebe isso. És redundante, não vês? És ao mesmo tempo a causa e a razão de tudo isso. És o teu próprio princípio e teu próprio fim. O teu a e teu z. És a palavra. Tu não passas de palavras, escritas sobre nada. Em algo que não existe, a não ser para os olhos. E queres que outros também o vejam. Fazes tudo conscientemente, e ainda assim o fazes. E tu sabes a razão. Pergunto-a, novamente: Enrubesces meu pensamento? Turva-o de vermelho? Desse teu sangue? Ou o libertas de si mesmo? Que faço eu aqui? E me responde: Fazes o que fazes. Nada. O que sempre fizestes. E nunca percebestes. Sabes que deves afastar-te de tudo isso. Pois como disse, isso é teu princípio, e da mesma forma será teu fim. Recorres agora a mim. Por não ter mais a quem recorrer. E pergunto: Contudo, vós sois Doña Dominga. Dominga. Vosso nome vem de causas maiores. Dies Dominicus. Sois A Senhora. Devêreis ter uma resposta. E vós sois sangue, rubro, espesso. E sois feminina. Geradora de vida. Não de morte. Ao que me responde, bruscamente: Tu não enxergas, não é? Ouves esta voz na sala? Serás o mesmo. Pois não passas disso. Não passas de algo homem. E nada virá de nada. Do pó só pó virá. E só isso virá de ti. Pó. Névoa nada. Turvo-te o pensamento de vermelho? Não. És tu quem o fazes. Por insistires em querer o que não te é nem te será permitido: a plenitude da leveza. Teu fardo não sairá de teu ombro. De nada te adiantam as palavras. De nada te adiantam as línguas. Elas nada te dirão além do que já sabes. Sabes o que há por saber. Nem todas as línguas do mundo te responderiam. Este é teu fardo. Hás de carregá-lo até teu fim, que está a cada segundo mais próximo. Mas não te preocupes. Hás de partir em sono profundo. Sei. Vês como teu ser está a cada momento mais dormente? É assim que dormirás. E uma hora teu sono será aquele de que não se acorda.

Desisto de ouvi-la por um instante e verifico as horas novamente: oito e cinqüenta e oito. Não sei por que levo este diálogo adiante. Mas não há mais nada a fazer. Não há mais pessoas com quem conversar. Não há mais ninguém ao meu redor. Agora farei disto algo ainda mais forte, para ver a reação de Doña Dominga. Uma gota desse sangue pinga sobre o papel. Sobre a mesa. Serei eu a sangrar? Estou com sono, muito sono. E quero dormir. E não mais acordar para essa realidade. Não sei se outra me espera. Não sei o que fazer. Não há quem ou o quê me ajude. Somente Doña Dominga permanece, impassível, aqui, ao meu lado. Que estarei a fazer? Sei dos riscos. E esta pode ser a última viagem. Mas não será. Não creio. A não ser que Doña Dominga turve-me ainda mais o pensamento. E hoje não há quem me salve de mim mesmo. Pode ser hoje. Há os fins e os meios. Justificam os fins os meios? Nunca se há de saber. Ou será essa só mais uma breve fuga, em lágrimas e sangue? Ligam-me da farmácia. Neste exato momento. Querem alimentar-me de mais drogas. Sustentar esse vício que destruo com outro vício. Vícios que se alimentam uns aos outros. Cabernet Sauvignon, alcalóides, diazepínicos e tals. Assim não há de haver como.

E Doña Dominga permanece ali. Olhando-me. Fixamente. Enche-me o copo. Figuras dançam. And I just to play the game. Take me by the hand. Save me. Mas você não está nem aí. Nem aqui. Quello che accadrà, accadrà. Nothing more than a night stand. It was just what I wanted. But you’re not here. I’m not here. Nobody’s here. Tout est vraiment foutu. There’s no rehab for me. E as palavras tornam-se escassas, lentas. Old vines? O velho sou eu. Envelheço mil anos a cada segundo. O corpo não pode mais agüentar. C’est la fin. Je le reconnais. C’è un dolore che non capisco. Et que je ne peux pas resoudre. Personne ne comprendra, jamais. C’est la fin. La fin de moi. Que insisto em permanecer aqui, sem razão.

Doña Dominga olhando-me, diz: Vês! Acabou-se, porco. Nada. Nothing. Rien. Niente... Tua vida se tornou nada mais do que reticências insistentes. Tu não passas destas reticências, que de nada servem. Durma de uma vez por todas. Todos te abandonaram. Idiota. Fizestes isso. De que vale tudo que és? Nada. Absolutamente nada. Amazing Grace? Quem se importa? Mesmo aqueles hão de esquecer, e tu não passarás de uma lembrança distante. Mostra isto aqui a todos. Deixe que vejam toda tua dor. Pois nada há de fictício aqui. É tudo verdade. O álcool, as drogas, tudo. Estás fudido, como sempre estivestes. Lúcido? Como se não há luz? Lúcifer. Sabes que pelo que fizestes pode não acordar amanhã. Teu sono pode ser aquele de que não se acorda. E qual a razão destas lágrimas? Seu nada! Tu não és nada! Sois pó, e ao pó voltarás, e não falta muito. Teu desespero aumentará a cada dia. E a cada dia eu estarei aqui para alimentá-lo. Estás já louco. Não sabes o que dizes, ou o que escreves. Tu tens uma inteligência admirável, mas te falta o equilíbrio, e é aí que entro. Pois eu, tua Doña Dominga, não sou tua senhora, mas teu refugo, a expressão de tua dor sem fim. Vês a dormência? Try, just a little bit harder, and I’ll be there for you, to see you loose yourself. Toma mais do meu sangue. Toma-o todo para ti. Choras? Vejo tanta graça nisso. Try. Try. I want to see it. I am your Doña Dominga. Estás bêbado, drogado, e podes não acordar amanhã. Não culpes a ninguém. Sois tu o culpado. Fizestes o que fizestes. Agora agüente as conseqüências. Esta vida acabou-se. Babas. Vês! É teu fim. Please, play the game. I want to see it. Maybe. Maybe it’ll be your end. But who cares? Your mother? Ha, she’ll forget after a few years. Nothing that can’t be cured, like her cancer. And don’t ask anyone to come back to you. You know why, unfaithful. Maybe.

O tempo passou. Nove e trinta e dois. Ainda vivo. Ainda escrevo. Com dificuldade. One good man? Não, não passas de um nada. You ain’t much. You ain’t nothing. Você acabou com tudo. Com realidades e possiblidades. E eu acho graça nisso. Era o que eu queria. E consegui. Te ver assim. Desesperado. Sem esperanças. Lutando para dar sentido às palavras. Quem se importa? Tu? Alguém? Não creio. Sabes que se dormir hoje não te acharão por vários dias.

E Doña Dominga se torna cada vez mais distante. Cumpriu seu papel. Deixou-me aqui. Turvo de vermelho. Afasta-se agora. Satisfeita com o que conseguiu até o momento. Nove e quarenta e cinco. E só. Nem uma palavra. Nem um alguém. Culpa minha? Talvez. Eu que sofra as conseqüências. Eu que sofra. Eu que sofra. Summertime novamente. Friends, they turn away... like everybody else. I can always cry. Até que não sobrem mais lágrimas. You’b better save me from myself, because I can’t. I may be here tomorrow, or not. Indeed.

Let’s hope for the best. Whatever it is.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Le Poison - Par Baudelaire. (Et moi).


Le vin sait revêtir le plus sordide bouge
D'un luxe miraculeux,
Et fait surgir plus d'un portique fabuleux
Dans l'or de sa vapeur rouge,
Comme un soleil couchant dans un ciel nébuleux.

L'opium agrandit ce qui n'a pas de bornes,
Allonge l'illimité,
Approfondit le temps, creuse la volupté,
Et de plaisirs noirs et mornes
Remplit l'âme au delà de sa capacité.

Tout cela ne vaut pas le poison qui découle
De tes yeux, de tes yeux verts,
Lacs où mon âme tremble et se voit à l'envers...
Mes songes viennent en foule
Pour se désaltérer à ces gouffres amers.

Tout cela ne vaut pas le terrible prodige
De ta salive qui mord,
Qui plonge dans l'oubli mon âme sans remords,
Et charriant le vertige,
La roule défaillante aux rives de la mort!

[Podcast]

Maxime

Aujourd'hui c'est l'écran de l'ordinateur la seule chose qu'illumine l'homme.

Quando o assunto é a falta de assunto...

...percebe-se o quanto tudo se esvaziou. Silêncio. Sem carros na rua. Sem vozes na calçada. Grilos solitários, teimosos, ao longe. E o ruído das teclas, caótico, desarmonioso. Vez ou outra o ranger da cadeira. O que sobrou de tudo? Isso? Que é isso? A que ponto está isso? A que lugar isso leva? Preciso falar para não morrer. A morte é a palavra muda. A boca que não mais se abre. O pensamento que não mais. Preciso continuar isso aqui. Uma palavra após outra, como passos de uma caminhada sem rumo. Sem direção. Foi-se tudo. Acabaram-se os sonhos, as miragens, o Sol se pôs. Agora, um passo à frente do outro, olhando não para a frente, mas para o chão, pois à frente não há mais o que ver, além da linha do horizonte, ou a tela do computador. No momento, a única luz que me ilumina. É essa a conclusão a que se chega, quando o assunto é a falta de assunto.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Brevidade

Um telefonema inesperado. Um olhar. Um toque. Um gesto. Algumas poucas palavras. Uma carícia nos cabelos. Passos juntos, poucos, leves, como se flutuássemos. Alheio tudo. À multidão que formigava. Ao ensurdecedor ruído das vozes que se sobrepunham umas às outras babelicamente. Bastou uma presença para que tudo se tornasse silêncio. Pleno, e repleto. De uma presença que preenche qualquer vazio, mesmo o mais abismal deles. E no entanto, não mais que alguns instantes. Uma brevidade secular. Uma brevidade alheia até mesmo ao Tempo, que pára, pede licença, e se retira, por entender que ele, naquele momento, estava sobrando. A presença que esquenta o frio da solidão da tarde. Que a torna leve, pueril, saborosa. Mais trocas de olhares, e de palavras. Aquelas mesmas, que dão corpo ao real. Por que o real nada mais é do que estas poucas palavras. E estas, capazes de criar um real outrora inimaginado, inimaginável. Desta presença, pautada pela brevidade, o óbvio do desejo, agora comedido, cauteloso, que se sabe intruso. Desconfiado - de si mesmo até. Entretanto, posso não usar o pires para sorver o café, mas não deixo de prová-lo.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Inominável

Fundo sem fundo.

Dor sem ter dor.

Calo o meu mundo

Agora então.


Pois que a vida

Vituperável

Desfaz-se em mim

Agora assim.


Poemo e nego

Ao teu apego

Desapegado

Agora pois.


E findo o fim

Fico quieto

E espero que

Agora abjeto.


[Podcast]

sábado, 6 de dezembro de 2008

Crônica. Balas de Estalo. 5 de outubro de 1885. Por Machado de Assis.

Mal adivinham os leitores onde estive sexta-feira. Lá vai, estive na sala da Federação Espírita Brasileira, onde ouvi a conferência que fez o Sr. M. F. Figueira sobre o espiritismo.

Sei que isto, que é uma novidade para os leitores, não o é menos para a própria Federação, que me não viu, nem me convidou; mas foi isto mesmo que me converteu à doutrina, foi este caso inesperado de lá entrar, ficar, ouvir e sair, sem que ninguém desse pela coisa.

Confesso a minha verdade. Desde que li em um artigo de um ilustre amigo meu, distinto médico, a lista das pessoas eminentes que na Europa acreditam no espiritismo, comecei a duvidar da minha dúvida. Eu, em geral, creio em tudo aquilo que na Europa é acreditado. Será obcecação, preconceito, mania, mas é assim mesmo, e já agora não mudo, nem que me rachem. Portanto, duvidei, e ainda bem que duvidei de mim.

Estava à porta do espiritismo: a conferência de sexta-feira abriu-me a sala de verdade. Achava-me em casa, e disse comigo, dentro d'alma, que, se me fosse dado ir em espírito à sala da Federação, assistir à conferência, jurava converter-me à doutrina nova.

De repente, senti uma coisa subir-me pelas pernas acima, enquanto outra coisa descia pela espinha abaixo; dei um estalo e achei-me em espírito, no ar. No chão jazia o meu triste corpo, feito cadáver. Olhei para um espelho, a ver se me via, e não vi nada; estava totalmente espiritual. Corri à janela, saí, atravessei a cidade, por cima das casas, até entrara na sala da Federação.

Lá não vi ninguém, mas é certo que a sala estava cheia de espíritos, repimpados em cadeiras abstratas. O presidente, por meio de uma campainha teórica, chamou a atenção de todos e declarou abertos os trabalhos. O conferente subiu à tribuna, traste puramente racional, levantaram-lhe um copo d’água hipotético, e começou o discurso.

Não ponho aqui o discurso, mas um só argumento. O orador combateu as religiões do passado, que têm de ser substituídas todas pelo espiritismo, e mostrou que as concepções delas não podem mais ser admitidas, por não permiti-lo a instrução do homem; tal é, por exemplo, a existência do diabo. Quando ouvi isto, acreditei deveras. Mandei o diabo ao diabo, e aceitei a doutrina nova, como a última e definitiva.

Depois, para que não dessem por mim (porque desejo urna iniciação em regra), esgueirei-me por uma fechadura, atravessei o espaço e cheguei a casa, onde... Ah! que não sei de nojo como o conte! Juro por Allan-Kardec, que tudo o que vou dizer é verdade pura, e ao mesmo tempo a prova de que as conversações recentes não limpam logo o espírito, de certas ilusões antigas.

Vi o meu corpo sentado e rindo. Parei, recuei, avancei e disse-lhe que era meu, que, se estava ocupado por alguém, esse alguém que saísse e mo restituísse. E vi que a minha cara ria, que as minhas pernas cruzavam-se, ora a esquerda sobre a direita, ora esta sobre aquela, e que as minhas mãos abriam uma caixa de rapé, que os meus dedos tiravam uma pitada, que a inseriam nas minhas ventas. Feitas todas essas coisas, disse a minha voz.

— Já lhe restituo o corpo. Nem entrei nele senão para descansar um bocadinho, coisa rara, agora que ando a sós...
— Mas quem é você?
— Sou o diabo, para o servir.
— Impossível! Você é uma concepção do passado, que o homem...
— Do passado, é certo. Concepção vá ele! Lá porque estão outros no poder, e tiram-me o emprego, que não era de confiança, não é motivo para dizer-me nomes.
— Mas Allan-Kardec...

Aqui, o diabo sorriu tristemente com a minha boca, levantou-se e foi à mesa, onde estavam as folhas do dia. Tirou uma e mostrou-me o anúncio de um medicamento novo. O rábano iodado, com esta declaração no alto, em letras grandes: "Não mais óleo de fígado de bacalhau". E leu-me que o rábano curava todas as doenças que o óleo de fígado já não podia curar — pretensão de todo
medicamento novo. Talvez quisesse fazer nisto alguma alusão ao espiritismo. O que sei é que, antes de restituir-me o corpo, estendeu-me cordialmente a mão, e despedimo-nos como amigos velhos:

—Adeus, rábano!
—Adeus, fígado!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ele

Por muito tempo Ele permaneceu em sua casa, trancado. A luz do dia não passou, no decorrer daqueles anos todos, de uma fraca luminosidade que vencia os vidros verdes da janela ao lado. O ar, sempre viciado, sempre insuficiente, alucinava-o. Todavia, tudo, ali, em meio àquele vazio da solidão, bastava-lhe. Recluso. Trancafiado em si mesmo. Sua única realidade, as palavras. As páginas folheadas. Os livros que se acumulavam como se procriassem entre si, empilhados, um sobre os outros, em eterna cópula. Não como o Autodidata. Não lhe interessava tudo. Não lhe interessava nada além de si mesmo. Seu universo girava ao redor do seu próprio eu. O seu eu, nas páginas. Lidas, atente. Não escritas.

Por vários anos viveu assim. Calou-se. Primeiro, dias sem sair. Depois os dias alongaram-se em semanas, e acostumou-se aos poucos à idéia. Assim, as semanas tornaram-se meses. Os meses, anos. Os anos, décadas. As décadas, o atemporal. De tal forma que o que antecedera aquele momento no qual vivia transformara-se em algum tipo de passado épico, distante, de cuja memória só se tem algo lendário, não mais confiável, não mais demonstrável. Tudo tão distante, e diverso.

Toda a casa, de poucos cômodos, sempre trancada. Nada se via do que acontecia lá fora. Nada se via do que acontecia ali dentro. Ele e a casa tornaram-se, aos poucos, uma e só coisa. Organismos simbiontes. Suas necessidades fisiológicas, inexistentes.

O seu dia resumia-se a ler a si mesmo, incessantemente, nos livros que possuía. Em cada letra, acreditava ver uma de suas células. Em cada pensamento expresso, um átimo de seu ser. Sua existência, embora repleta de palavras, não expelia nada. Ele, um buraco negro, que absorvia toda a matéria imaterial ao seu redor. Todo o imaterial do pensamento exposto, virado e revirado para o seu prazer. E, embora buraco negro, todo esse material nunca se extinguia. A mesma página o serviria por vários anos. Tudo, visitado, e revisitado. E de tudo emanava, caudalosamente, o único alimento com o qual se importara até então.

Chegou um momento, entretanto, em que sentiu a necessidade de abrir, Ele mesmo, a porta. Não sabia, porém, o que veria. O que haveria à sua volta. Como respirar outro ar que não aquele. Como ver a luz do dia, sem o vítreo bloqueio da janela. Se agüentaria a força do Sol, e do seu calor, e da sua força, e da sua imponência. Se suportaria o frio e a escuridão da Noite, que segue a todo e qualquer dia. Tudo, uma grande desconfiança. Mas precisava sair. Ali dentro, nunca encontrara a si mesmo. Mesmo passadas todas aquelas décadas. Mesmo depois de tudo ter esvaziado a si próprio. Se não ali, o que buscava precisava encontrar do lado de fora.

Abriu, então, Ele, a porta. Seus olhos arderam com a luz. Teve, entretanto, a impressão de que se acostumaria aos poucos. Aberta a porta, viu, ao contrário do que esperava, o silêncio. Nada mais havia. Tudo, pó. Silêncio. Olhou, assombrado, ao redor, em busca de algo reconhecível. Em busca de outro espírito como o seu. Outro querente. Não. Nada. Alguns passos adiante. Passos débeis. Mãos trêmulas. Boca semi-aberta. Nada. Só o pó. Nem ruínas. O Tempo, não mais. Encontrara-se com o infinito. Quis voltar, mas, olhando para trás, mesmo sua casa sumira. Em lugar de tudo, o pó. Fino, correndo como névoa sobre seus pés. Percebendo então que tudo voltara ao princípio, Ele falou.

Sobre a ausência (novamente, com o discurso se libertando de...)

Hoje os olhos não se encontraram. As palavras, esvaziadas. Algo ausentou-se. Pergunto-me: o quê? Para onde foram as cumplicidades? As alegrias? Os prazeres de estar junto? Que houve com as palavrosidades? Tudo tão quieto. Como o dia. Soturno, nublado, triste, frio. Havia um muro. Quem o construiu? Eu, talvez. Dos exageros e deslizes e despreocupações e distrações vieram desastres e dores e confusões e mal entendidos. Mas não nos culpemos. Somos ambos culpados sem culpa. Caímos em nós mesmos. Ao menos eu, em meu próprio abismo sem fundo. A queda continua. Ora mais rápida, ora mais lenta. Inexorável, entretanto. Hoje, entretanto, alimentamos o corpo. Não mais o espírito. Seremos, ainda, alimento para o espírito? Há espírito para alimentar? Será que vou conseguir sair da teia que criei para mim mesmo? Deste novelo sem ponta, onde me embrenhei? A ausência me faz refletir. Há medo na ausência, como há na presença. Tudo mudou, e nada mudou. O problema é o prisma. E como a luz é refletida. Tudo se decompôs, e esteve sempre decomposto. Mas as cores que escolhi foram as que eu escolhi. Talvez tenha escolhido as cores erradas. Talvez tenha escolhido as cores de que precisava. Não as que se estavam colocando como as que queriam ser escolhidas. Talvez seja esse meu problema. Sou daltônico. Troco. Por isso, creio, preciso cerrar os olhos. Não consigo ver as cores. Antes uma ausência plena, do que presenças ausentes.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Miragem

Vi, de repente, o vento. Um sopro. Só. Desta vez, no entanto, ele não trouxe areia. Levou. Os olhos, outrora lacrimejados, lacrimejantes, viam. Sem a areia, nada. Era tudo miragem. O calor do sol. O ruído silencioso do deserto. Ao redor, montanhas de areia. O horizonte. Para todo e qualquer lado. E o sol. Quente, amarelo. Como a areia. Não sei onde é norte, ou sul, ou leste, ou oeste. O sol, a pino. Preciso esperar o fim do dia. Sento-me. Há tanto calor. Tudo seca. Não há vida sob o sol. Não há sombra. Não há água, nem das lágrimas, que evaporam antes de rolar. O vazio da imensidão. Um vazio tão cheio de vazios. É tudo tão circular, e sereno. Não restou. O calor da necessidade turva-me as vistas. Tudo dança, vertiginosamente, ao meu redor. Esse tudo que não é nada. E eis que me levanto afoito e lanço-me a tudo corro para todo lado como se corresse para algum lugar mesmo sabendo que não há lugar algum a que chegar e mesmo assim continuo correndo como um louco sem rumo sem direção sem nada que peça ou impeça como um louco que se lança contra si mesmo num ato de desespero e desesperança contínua esperando que. E me canso. Sento. Olho ao redor. Mas o desespero é tanto que não há como ficar desesperado. Não há mais reação, porque não há mais nada. Só ficou o não. O im. Improvável, impossível, imaginado, imaleável, imarcescível, imaterial, imbecil, imberbe, imbele, imediatista, imerecido, imódico, imotivado real que criei pra mim mesmo. Esse real, miragem. Foi-se.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Life?

It's a fucked up shit!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dernier Dialogue

- Tiens! Voici ma vie, mes mots, et tout ce que je suis.

- Merci, mais je ne les veux pas. Désolée.

En écoutant ça, il a décidé de jeter tout aux cochons.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Máxima

O pior traidor é aquele que trai as suas próprias paixões.

Diálogo (Reminiscências)

E depois eu disse: "Você é algo que eu não consigo definir, ou entender. Há em você tanta leveza. Você vive a vida não como se ela fosse acabar amanhã, mas como se ela não tivesse fim. Apesar de tudo, há sempre um sorriso no teu rosto. Não te vejo triste, em preocupação, ou deixando-se abater pela indisposição. Pelo contrário. Há sempre essa vitalidade que desconheço. Essa leveza no trato com tudo. Essa simplicidade nos atos, nas palavras, que embora singelas, sempre dizem mais do que aparentam. Você é uma pessoa simples, mas de uma simplicidade que não se pode compreender. É daquela simplicidade que se precisa aceitar como é. E agora percebo o quanto é difícil falar disso. Parece que as palavras não são suficientes, seja em que língua for, para falar de você. E ainda tem esse altruísmo, esse querer levar a felicidade e a leveza onde não há, sem esperar nada em troca. O dar por dar, simplesmente. O prazer de ver um sorriso no rostro do outro. Não entendo isso. Isso me é tão estranho. Tão incomum. Tão diverso do que estou acostumado. Isso não é humano. Então suponho que você talvez seja algum tipo de anjo. Desses que vêm, aparecem quando menos esperamos, e do qual desconfiamos até não dar mais. E depois vão embora. Você é daqueles anjos que vêm para mostrar que há outras possibilidades e, sendo anjo, nada te preocupa. Tudo lhe é alheio. Tudo lhe está à parte. E portanto nada parece te incomodar. Tão incomum. Chega a ser surreal tal existência. Todo o meu rebuscamento se desfaz como gelo sob o sol diante da sua simplicidade. Tudo que li e aprendi perde toda a importância perto de você. Pois na simplicidade do seu ser está algo muito mais complexo por ser muito mais simples do que eu posso imaginar. Esvazia-se o ego, diminui-se o intelecto, diante de algo tão singelo, de beleza de ser tão pura. Querer te entender é o mesmo que querer te destruir."

Ouvindo, respondeu-me com um sorriso.