A Avestruz (tradução minha. Texto de Jacques Prévert.)
Quando o PequenoPolegar abandonado na floresta deixou seixosparareencontrarseucaminho, nãotinhadúvidas de que uma avestruz o seguia e devorava os seixosum a um.
Esta é a verdadeira estória, foi assimque aconteceu...
O filhoPolegar volta-se: semseixos!
Está definitivamente perdido, semseixos, semcasa; semcasa, sem papai-mamãe.
“É desolador”, diz, entre os dentes.
De repente, escutarisadas e depois o ruído de sinos e o ruído de uma torrente, de trompetes, uma verdadeira orquestra, umtemporal de ruídos, uma músicabrutal, estranhamaisnão de todo desagradável e completamentenovaparaele. Passa, então, a cabeçaatravés da folhagem e vê a avestruzquedança, que o olha, pára de dançar e lhe diz:
A avestruz: “Sou euquem faz esseruído, sou feliz, tenho umestômagomagnífico, posso comernão importa o quê. Nesta manhã, comi doissinoscom o seubatente, comi doistrompetes, trêsdúzias de oveiros, comi uma saladacomsuasaladeira, e os seixosbrancosquevocê deixava, tambémeles, eu os comi. Suba nas minhascostas, vou bemrápido, viajaremos juntos.
“Mas”, diz o filhoPolegar, “meupai e minhamãe, não os verei mais?”
A avestruz: “Se eleste abandonaram, é porquenão querem maisterevertãocedo”.
O PequenoPolegar: “Certamente, há verdade no que dizes, senhoraAvestruz”.
A avestruz: “Nãome chame de senhora, issome faz mal às asas, chame-me Avestruzsimplesmente”.
O PequenoPolegar: “Sim, Avestruz, masassimmesmo, minhamãe, não é!”
A avestruz (emcólera): “Não é o quê? Vocême irrita porfim e depois, querqueeute diga, nãogosto de tua mãe, porcausa daquela maniaqueela tem de semprecolocarplumas de avestruzemseuchapéu...”
O filhoPolegar: “O fato é queistocustacaro... maselasempregastaparadeslumbrar os vizinhos”.
A avestruz: “Emvez de deslumbrar os vizinhos, seria melhorqueela se ocupasse de você, quete esbofeteasse às vezes”.
O filhoPolegar: “Meupaitambémme batia”.
A avestruz: “Ah, o senhorPolegarte batia, isso é inadmissível. Os filhosnão batem nospais, porque os pais batem nosfilhos?”. Aliás, o senhorPolegartambémnão é tãomau; na primeiravezemque viu umovo de avestruz, sabe o queele disse?”.
O filhoPolegar: “Não”.
A avestruz: “Quebom”, disse, “Isso dará uma belaomelete!”.
O filhoPolegar (sonhador): “Eume lembro, na primeiravezemque viu o mar, refletiu poralgunssegundos e depois disse: ‘Quebaciagrande, penaquenão haja pontes’. Todos riram maseutinhavontade de chorar, entãominhamãe me puxou pelas orelhas e disse: “Você não pode rir como os outros quando teu pai está de brincadeira!” Não foi minha culpa, mas não gosto das brincadeiras das pessoas grandes...”
A avestruz: “... eu também não; suba nas minhas costas, você não verá mais seus pais, mas verá o país”.
“Tudo bem”, disse o pequeno Polegar, e ele sobe.
Ao grande e triplo galope, o pássaro e o garoto partem e deixam uma grande nuvem de poeira.
Da soleira de suas casas, os camponeses abanam a cabeça e dizem: “Mais um desses automóveis baratos!”
Mas as camponesas escutam a avestruz que faz os sinos tocarem ao galopar:
“Vocês estão escutando os sinos, dizem umas às outras, é uma igreja que se salva, o diabo certamente logo atrás”.
E todos se amontoam até a manhã seguinte, mas na manhã seguinte a avestruz e o garoto estão longe.
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