quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Miragem

Vi, de repente, o vento. Um sopro. Só. Desta vez, no entanto, ele não trouxe areia. Levou. Os olhos, outrora lacrimejados, lacrimejantes, viam. Sem a areia, nada. Era tudo miragem. O calor do sol. O ruído silencioso do deserto. Ao redor, montanhas de areia. O horizonte. Para todo e qualquer lado. E o sol. Quente, amarelo. Como a areia. Não sei onde é norte, ou sul, ou leste, ou oeste. O sol, a pino. Preciso esperar o fim do dia. Sento-me. Há tanto calor. Tudo seca. Não há vida sob o sol. Não há sombra. Não há água, nem das lágrimas, que evaporam antes de rolar. O vazio da imensidão. Um vazio tão cheio de vazios. É tudo tão circular, e sereno. Não restou. O calor da necessidade turva-me as vistas. Tudo dança, vertiginosamente, ao meu redor. Esse tudo que não é nada. E eis que me levanto afoito e lanço-me a tudo corro para todo lado como se corresse para algum lugar mesmo sabendo que não há lugar algum a que chegar e mesmo assim continuo correndo como um louco sem rumo sem direção sem nada que peça ou impeça como um louco que se lança contra si mesmo num ato de desespero e desesperança contínua esperando que. E me canso. Sento. Olho ao redor. Mas o desespero é tanto que não há como ficar desesperado. Não há mais reação, porque não há mais nada. Só ficou o não. O im. Improvável, impossível, imaginado, imaleável, imarcescível, imaterial, imbecil, imberbe, imbele, imediatista, imerecido, imódico, imotivado real que criei pra mim mesmo. Esse real, miragem. Foi-se.

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