sábado, 29 de novembro de 2008

Angelus Domini nuntiavit Mariæ

Embora ainda bastante sonolento, cria-se acordado. Dormira, todavia, por tanto tempo que ainda era difícil discernir aquela realidade que talvez não fosse do sonho adormecido que vivera até então. Era incerto ainda o momento. Havia, no entanto, uma voz, ao longe, do outro lado de alguma coisa, que parecia querer acordá-lo. E ele sentia o calor da tarde de um sol imaginado, de prazeres há muito esquecidos. Eram somente possibilidades, bastante ofuscadas pelas pesadas e persistentes nuvens negras. Não importava. A imaginação em si daquelas possibilidades já aqueciam o suficiente por agora. O calor era algo diferente do que viera sentindo. Mesmo livrando-se aos poucos da coberta debaixo da qual se escondera por tanto, não se sentia tão desprotegido, e confiava cada vez mais. Cautela era preciso, pois qualquer brisa gélida o levaria rapidamente de volta à cama. Afinal, aquele calor e aquela segurança do seu leito eram-lhe já velhos conhecidos. A possibilidade mesma, contudo, de preencher uma tarde de calor e música e palavras e trocas e conflitos e diferenças imbuía-lhe de ânimo. Seria possível, mesmo com a ameaça de tantas negras nuvens? Não importa. Agora, a mera imaginação, palavras lidas e não ouvidas, já eram quentes o suficiente para o momento.

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