quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Conoscerti o Conoscermi?

Juntos, alimentamo-nos. Mas de quê? Não de pasto, mas de nós mesmos. E os olhos, janelas fechadas, encobertas, enegrecidas. Escondiam algo, palavras ditas com, mas sem dizer palavra. Enquanto isso, palavras fúteis dançavam à nossa frente. Sorrateiras, matreiras, desconfiadas, amigáveis. Mas ainda assim, algo. Música de fundo. Dizendo o que não ouso. E ela me fica na mente, soando, ressoando. E os olhos. Por que se escondem de mim, quando perto? Por que me olham, quando longe? Olhar para mim é olhar para um abismo. Igualmente enegrecido. Insondável. Arrogante. Como todo abismo. Que engole quem dele se aproxima. Não há fenda nesse abismo. Só o precipício. Mas como seria essa queda livre? Seria sensação de liberdade? De vôo, em vez de queda? De insegurança, por cair? De leveza, por não ter chão? De medo, por não saber o fim, se é que há? De alegria, por experimentar a falta de amarras? Como seria? Como seria? Só há uma maneira de saber: atira-se no abismo, suicida, ou observa-se da beirada, olhando para coisa alguma.

Um comentário:

Carla disse...

Gostei desse texto.
Érico Veríssimo disse: "todos nós somos um mistério para os outros... e para nós mesmos." Eu acrescento: somos mistérios porque somos habismos de nós mesmos.