quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu palavras.



Hamlet: palavras, palavras, palavras. Palavras: realidade. Real? Muita pretensão. Tudo não passa de palavras. Em páginas ora brancas, ora amareladas. O Tempo. Somos livro sem capa, nem contracapa, nem lombada. Somos páginas soltas. Palavras escritas fora das linhas que não existem. Quisera ser livros. Mas só se pode aspirar. Não me pertence o eterno. A satisfação. A realização do livro. Sou palavras escritas à distância. Que distorcem. Mentem. Manipulam. Dissimulam. Fazem crer. Desfazem. Demovem. Criam. Destróem. Trazem dúvida. E mesmo: duvidam. Quisera ser o que Arcimboldo vira. Sou livros. Mas não Livro. O que leio. O que penso. O que falo. (In)Determinam o que sou. Tantas palavras para não conseguir dizer nada. E vejam como estou mais discursivo. As frases se alongam. As palavras se encontram. Não mais tão sozinhas. Todavia mostram-me o contrário. E no entanto só elas. Meu real. O que me existe. Todas, escritas por outrem. Outrora. Outubro. Outrossim creio, descrétido. Por vezes, assustam. Surpreendem. Assombram. Mas sei do que fazem. Por isso: sozinhas, comigo. Evito deixá-las correr. Soltas. Como querem. Como me forçam, porventura. Entretanto, entre nada, entre, talvez, alguma coisa. Talvez, entre. Nas linhas entre. Nas palavras entre. A verdade está no detalhe. Mas - merda - o detalhe não é. É o que vejo. Daí: receio. Medo. Não se deve confiar nas palavras. Como não se deve confiar nas mulheres. Como não se deve confiar no mar. Hugo bem o sabia. E tantos. E ninguém. Se eu palavras, como ler?

Nenhum comentário: