quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Defesa da Poesia.

Não há mais como. Morreu. Acabou. Tentar ainda? Inútil. Mas que foi a escrita, desde sempre? Toda aquela linhagem, de Homero a Celan, de Javista a Eliot, de nada a coisa nenhuma. E eu? Onde fico nisso tudo? Dizem que há sempre lugar ao sol. Não vejo sol. Ou lua, ao menos. Tudo é noite. Sem estrelas. Sem brisa. Quente. Mesmo o mar, morto. Só silêncio. Da madrugada. Do dia que não nascerá. Disse que não mais metáforas. Que são, pois? Toda palavra é metáfora, anáfora, coisas mais. Então, para que poesia? Para que a arte da palavra se toda palavra é arte? Se todo ser é senão pela palavra? E se toda palavra é senão metáfora? Não o que é, mas o que se diz que seja. Nada mais é. Nunca foi. Eu não existo. Isso aqui não existe. Nada existe. Só palavras. Nelas: ambigüidade, vazio, indeterminação, deslizes, tropeços... Quisera a leveza de Luciano, deram-me a angústia de Kafka. Quisera a ironia de Shandy, fiquei Hamlet. Quisera a astúcia de Rosalind, fiquei Macbeth. Logo, eu Otelo. Foi-se de mim a luxúria da Wife de Bath. Fiquei sorumbático, Casmurro. Enfim, virei tudo. Palavras. Ou seja: ninguém.

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