quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ich und Er



Dois meros nadas. Pensamos. Pra quê? Ele, fitando o vazio. Eu, a página. A página: o ser. Olho para compreender. Ou tento. Só sobraram as páginas. Hamlet, ao responder Polonius:

Polonius: What do you read my Lord?
Hamlet: Words, words, words.

Nietzsche olhou para o lado errado. Direção errada. Portanto, eu, a página. Nelas, só isso, nada mais: Words, words, words. Frutos de quem? De quê? Que dizem? Dizem? Não seria mero disfarce? Falar é cegueira. Organizar o pensamento, estupidez. Cerco-me deles. Para ouvir. Se falo, é comigo mesmo. O cúmulo da razão: falar consigo, ouvir a si mesmo, e discordar. Esbravejar. Vociferar. Baldoar. Apostrofar. Entrar em luta. Corporal. Para, no fim, o nada. O preto no branco. E a conclusão: cinza. Um século depois. A mesma indagação. O mesmo escrutínio. Resultado: espere mais cem anos e veja.

Um comentário:

Camilíssima Furtado disse...

Adorei o texto, como sempre (Sei que este 'sempre' é relativo neste caso...) Também falo e escuto a mim mesma, além das outras vozes habituais... By the way... very nice picture! Adorei, parecia Nietzsche mesmo!